VIDA E OBRA
Paul Tillich nasceu a 20 de agosto de 1886 em Starzeddel na Prússia Oriental. Estudou sucessivamente a filosofia e a teologia em Berlin, Tübingen e Halle, sendo contemporâneo de Karl Barth e Rudolf Bultmann. Suas teses foram dedicadas à filosofia religiosa de Schelling.
Ordenado pastor em 1912, participou da Primeira Guerra Mundial como capelão de guerra. Até 1933, lecionou em Berlin, Marburg, Dresden, Leipzig e Frankfurt, onde sucedeu a Max Scheler em 1929.
Desempenhou um papel importante na fundação da Escola de Frankfurt, tendo orientado a tese de doutorado de Theodor Adorno. Foi fundador, com um grupo de amigos, do movimento intelectual do "socialismo religioso". Tendo perdido sua cátedra por causa de suas posições anti-nazistas, Tillich emigrou para os Estados Unidos em 1933, a convite dos amigos Reinhold e Richard Niebuhr. De 1933 a 1955, foi professor de Teologia Filosófica no Union Theological Seminary e na Columbia University (New York).
Depois, lecionou nas universidades de Harvard e de Chicago. Nesta última cidade, coordenou importantes seminários de estudos da religião com Mircea Eliade. Depois da Segunda Guerra, fez freqüentes viagens a Europa para cursos e conferências. Recebeu o prêmio da paz dos editores alemães em 1962.
Paul Tillich morreu em 22 de outubro de 1965 em Chicago.
OBRAS EM PORTUGUÊS
- A coragem de ser (The Courage to be).
Trad. Eglê Malheiros,
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1972. - Dinâmica da fé (Dynamics of Faith).
Trad. Walter O.Schlupp,
São Leopoldo, RS, Editora Sinodal, 1985. - Teologia Sistemática (Systematic Theology).
Trad. Getúlio Bertelli,
São Paulo, Ed. Paulinas/São Leopoldo, Editora Sinodal, 1984 . - História do pensamento cristão (A History of Christian Thought).
Trad. Jaci Maraschin,
São Paulo, ASTE, 1988. - Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX (Perspectives on 19th and 20th Century Protestant Theology).
Trad. Jaci Maraschin, São Paulo, ASTE, 1986. - A Era Protestante ( The Protestant Era).
Trad. Jaci Maraschin,
São Bernardo do Campo, Ciências da Religião e Traço a Traço Editorial, 1992.
RESENHA DO LIVRO
TILLICH, Paul. Dinâmica da Fé. 5ª Edição. São Leopoldo – RS. Editora Sinodal. 1996. Pp. 87.
O autor se propõe reinterpretar o significado da palavra FÉ e excluir suas conexões distorcidas e enganadoras, as quais se lhe associaram através dos séculos, como também dar uma visão do poder oculto da fé e a imensurável importância daquilo que é expresso na dinâmica da fé.
No capítulo primeiro apresenta a definição de “o que é a fé” como estar possuído por aquilo que nos toca incondicionalmente. E a descreve como uma preocupação suprema no âmbito espiritual da existência humana, com suas conotações urgentes e imprescindíveis para a vida de um indivíduo ou para uma comunidade. Preocupação esta que exige sujeição e dedicação incondicional por parte de aquele que aceita essa exigência, mas que contém a promessa de realização suprema [ou perfeita], que é esperada num ato de fé. Promessa esta que pode vir em símbolos indefinidos ou concretos e que não precisa ser determinados em detalhes. Como exemplo coloca a fé na religião do Antigo Testamento. Ela contém o caráter incondicional na exigência, ameaça e promessa. Sendo a preocupação suprema o Deus da justiça, o Deus Todo-Poderoso. Deus é a preocupação incondicional de todo judeu devoto, daí o seu mandamento de maior eminência: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração…” (Dt 6,5). Nisto está expresso o que quer dizer preocupação última, estar possuído incondicionalmente, e é desse mandamento supremo que deriva o conceito da “preocupação última”, ou do “que nos preocupa incondicionalmente”. Este mandamento proclama inequivocamente a natureza da fé genuína e a exigência de dedicação total. O Antigo Testamento está cheio de um sem-número de promessas e ameaças. Promessas estas de uma indefinição simbólica, se bem que no centro se encontre a realização da vida nacional e pessoal. Ao respeito de ameaça surge a exclusão dessa realização; ela significa decadência do povo ou extinção do indivíduo. Portanto o homem do Antigo Testamento a fé é o estar possuído última e incondicionalmente por Javé e por tudo aquilo que ele representa através de sus mandamentos, ameaças e promessas. Não obstante este conteúdo é irrelevante para a definição de fé. Este é o primeiro aspecto que como diz o autor, precisamos reconhecer. (idem, ibidem, pp. 7 ).
Com relação a fé como ato da pessoa inteira, o autor dá especial destaque à descrição de que a fé se realiza no centro da vida pessoal e todos os elementos desta dele participam. Fé é o ato mais íntimo e global do espírito humano, ela também participa da dinâmica da vida pessoal. Fé não é portanto, um ato de forças irracionais quaisquer, assim como também não é um ato do inconsciente; ela é, isto sim, um ato em que se transcendem tanto os elementos racionais como não-racionais da vivência humana.
O autor diz que a fé é extática e vai além das estruturas do consciente racional; pelo fato de ser extático não exclui a razão, se bem que não é idêntica a ela; além disso ele também engloba elementos não racionais. Tais como: a êxtase da fé onde há uma consciência da verdade e de valores éticos, o sentimento e a vontade tendo em conta o elemento cognitivo, mas não como o resultado de um processo independente de pensamento, mas como um elemento indispensável de um ato integrado de fé. Neste sentido pode-se dizer que a fé não é o resultado de um ato independente nem é uma obra da vontade. Fé também não brota de um turbilhão de sentimentos, porque sentimento não produz fé. Portanto fé contém conhecimento, como também é uma decisão da vontade, isto é, ela é a unidade de todos esses elementos no eu “centrado”. (ibidem, p.10 ).
Ao respeito da Fonte da Fé, Tillich enfoca aspectos da situação do homem como num ato direto, pessoal e central, capaz de captar o sentido do que é último, incondicional, absoluto e infinito. Daí que, estar possuído incondicionalmente, significa: fé, isto é, estar tomado pelo incondicional, trata-se daquilo que o homem experimentou como incondicional, de validade última. Com isso já nos voltamos do aspecto subjetivo, para a questão do que é experimentado no ato da fé, como um ato central da pessoa para o seu significado objetivo. Portanto, este elemento do incondicional, do que tem validade última, determina o caráter do divino, de Deus.
Nesta mesma linha de pensamento, o autor aprofunda a expressão “preocupação incondicional” que engloba os aspectos subjetivo e objetivo do ato de crer: a fides qua creditur, isto é, a fé pela qual se crê, e a fides quae creditur, isto é, a fé que é crida. A primeira fórmula é a expressão clássica para o ato subjetivo, proveniente do íntimo da pessoa, ou sua preocupação incondicional. A segunda fórmula é a expressão clássica para aquilo a que se dirige o ato, para o incondicional como tal, expresso em símbolos do divino, pois a fé sempre se dirige a algo determinado. No ato de crer, a origem dessa fé está presente de um modo que transcende a separação de sujeito e objeto. Portanto Deus nunca pode ser objeto sem ser sujeito ao mesmo tempo. Segundo Paulo, nem mesmo uma oração chega aos ouvidos de Deus, se não for o Espírito de Deus que ora dentro de nós. (Rm 8). (idem, ibidem, p. 12).
Com relação ao tema A fé e a Dinâmica do Sagrado, o autor diz que: “Algo que nos toca incondicionalmente se torna sagrado. A experiência do sagrado é experiência da presença do divino”, ela é também experiência simbólica da diferença entre os seres, da superioridade de alguns sobre outros, superioridade e poder sentidos como “tremendum”, misteriosos, desejados e temidos. Dentro da cultura da religião hebraica do Antigo Testamento, designavam o sagrado aqueles seres ou coisas que são separados por Deus para seu culto, serviço, sacrifício, punição, não podendo ser tocados pelo homem.
Sagrado é pois, a qualidade excepcional boa ou má, benéfica ou maléfica, protetora ou ameaçadora: ele é tanto divino como demoníaco. Com respeito do elemento demoníaco, o seu significado se transforma: ele é racionalmente identificado com o verdadeiro e o bom. Contudo o dito anteriormente a respeito da dinâmica da fé é agora confirmado pela dinâmica do sagrado. Nasce, aqui, o sentimento religioso e a experiência da religião. Aqui então, se manifesta nitidamente o caráter ambíguo da religião e com isso também o perigo da fé. O perigo da fé é a idolatria, e a ambigüidade do sagrado resulta de sua possibilidade demoníaca. Portanto, nossa preocupação última – aquilo que nos toca incondicionalmente pode nos destruir assim como também nos pode curar. Mas sem uma preocupação última não podemos viver. (ibidem, pp. 15).
Com relação ao quinto tema que trata sobre a Fé e Dúvida, o autor argúi o seguinte: um ato de fé é realizado por um ser finito no âmbito do finito com todas as sua limitações e, que está tomado pelo infinito do qual ele participa transcendendo os limites do finito. Assevera dizendo que fé é certeza na medida em que ele se baseia na experiência do sagrado. (ibidem pp. 15).
Mas ao mesmo tempo a fé é cheia de incertezas, uma vez que o infinito, para o qual ela está orientada, é experimentado por um ser finito. Esse elemento de insegurança na fé não pode ser anulado; nós precisamos aceitá-lo. E esta aceitação é um ato de coragem. A fé engloba a ambos: conhecimento direto, do qual provém a certeza, e incerteza. Aceitar os dois é ter coragem. Mas onde há risco e coragem também existe a possibilidade do fracasso, e essa possibilidade se encontra em todo ato de crer. O risco do ato de crer, porém não pode ser eliminado, daí que toda fé contém um elemento concreto; ela se orienta para um objeto ou uma pessoa.
Tillich, classifica a Dúvida em três categorias, a saber: a) Dúvida Metodológica, é aquela que está envolvida na aplicação do método dedutivo ou empírico da pesquisa científica. Denominada também a dúvida do cientista. b) A Dúvida cética: está orientada em negar toda certeza diante de tudo que o homem considera verdadeiro, desde as percepções dos sentidos até as convicções religiosas. c) Dúvida existencial: é a dúvida de uma pessoa que está serissimamente possuída por algo concreto. Ela não pergunta se uma determinada tese é falsa ou verdadeira, nem rejeita toda verdade concreta, mas ela conhece o elemento de incerteza próprio a toda verdade existencial.
Portanto, o conhecimento desta relação de fé e dúvida é da maior importância prática. Muitos cristãos acometidos de medo, culpa e desespero, ficam perplexos diante do que chamam de “perda da fé”. A dúvida séria, porém, é uma confirmação da fé. Ela prova a seriedade e a incondicionalidade da sua perplexidade. Por isso a fé consegue resistir à própria dúvida de si mesma.
Por último, Tillich trabalha sobre o tema Fé e Comunhão. E enfatiza de que o ato de crer necessita da linguagem e com isso também da comunhão. Pois a linguagem só está viva em meio a uma comunhão de seres dotados de espírito. Sem linguagem não existe fé nem experiência religiosa. A linguagem religiosa, ou seja a linguagem do símbolo e do mito, forma-se na comunhão dos crentes e não é bem compreensível fora dessa comunhão. Apresenta também a hierarquia de posições existentes entre a comunhão de fé visando o seu conteúdo na forma de confissão de fé. Confissão esta que aspira ser reconhecida por todo membro da confissão de fé para tornar-se dogmática e obrigatória nessa comunidade de fé. Considera adequados de que toda expressão de fé que manifesta aquilo que toca uma comunhão de fé última e incondicionalmente, precisa incluir a crítica a si mesma. Em todas as afirmativas confessionais, sejam elas de natureza litúrgica, teológica ou ética, é necessário que esteja bem manifesto que elas não tenham validade última nem incondicional. A sua função é, isto sim, indicar o valor último e o incondicional que a todas transcende. Isso é o que eu chamo de “principio protestante”, o elemento crítico nas formas confessionais da comunhão de fé e com isso o elemento de dúvida no ato de crer. Partindo do ponto de vista cristão, isso significa que a igreja, com seus mestres, suas instituições e autoridades, se encontra sob o juiz profético, e não acima desse.
Aqui o autor conclui que: Crítica e dúvida indicam que a comunhão de fé “está sob a cruz”, isto se a cruz é entendida como o juízo divino sobre a vida religiosa da humanidade, sim até sobre o cristianismo, na medida em que esse se colocou o sinal da cruz.
Cap. II O QUE A FÉ NÃO É
1. A distorção da Fé como Ato do Conhecimento.
O autor diz que: “o pensamento popular deturpou o sentido da fé, sendo a ciência uma delas que contribuíram com que muitas pessoas se afastassem da religião. Porém, também concepções filosóficas e teológicas estão envolvidas na distorção da fé.” (ibidem, pp. 24).
A distorção mais freqüente da fé consiste em considerá-la como um conhecimento que apresenta menor grau de certeza do que o conhecimento científico. Por isso a palavra “Fé” não deveria ser usada quando se trata de conhecimento teórico, tanto faz se é um conhecimento que se baseia numa certeza pré-científica ou científica, ou numa confiança em autoridade, porque de fato o ato de fé em si não pode ser demonstrada. Daí que a fé não confirma nem nega nada que faça parte do conhecimento pré-científico ou científico do nosso mundo, seja ele baseado em experiência própria ou de outros. Porquanto a dimensão da fé não é uma dimensão da ciência. A aceitação de uma hipótese científica que possui alto grau de probabilidade não é fé, mas um crédito provisório, que precisa ser comprovado cientificamente e levar em conta novos dados.
Concluindo, na certeza da fé não existe o problema teórico de certeza maior ou menor, do provável ou improvável. A fé gira entorno de um problema existencial: em torno da questão de ser ou não ser. Fé não é dar crédito, ela se encontra numa outra dimensão que todo parecer teórico o juízo teórico.
2. A Distorção da Fé como Ato da Vontade
Sob esta ótica de pensamento, o autor argumenta o seguinte: Nossa crítica à distorção intelectual da fé refuta ao mesmo tempo a distorção voluntarística, porque essa deriva daquela. Sem um conteúdo teoricamente fixado da fé, a “vontade para crer” não faria sentido. Esse conteúdo é dado pela razão à vontade. Na teologia católico-romana clássica a “vontade para crer” não é uma decisão que surge do esforço do homem, mas ela lhe é concedida pela graça. Deus leva a vontade a aceitar a verdade da doutrina da igreja. Mas também conforme essa concepção não é o intelecto que é levado por Deus è fé, mas a vontade movida por Deus completa aquilo que o intelecto não consegue realizar sozinho.(ibidem p.28 )
Portanto, o homem finito não pode criar voluntariamente o estar possuído pelo infinito. Nossa vontade inconstante não consegue gerar a certeza que está presente na fé. Nem a razão, nem a vontade, nem autoridades conseguem criar fé.
3. A distorção da fé como sentimento
Tillich assevera que, as dificuldades que surgem quando se entende a fé como uma questão da razão ou da vontade ou da cooperação de ambas levaram a que se a concebesse como sentimento. Essa concepção foi sustentada em parte até hoje tanto do lado religioso como do secular.
Uma interpretação de fé que foi prontamente aceita por cientistas e políticos foi o pensamento do Schleiermacher. Ele descreveu a religião como sentimento de dependência incondicional. Sendo a palavra “sentimento” para este teólogo NÃO como algo vago e oscilante, mas que tem um conteúdo determinado. Mesmo assim a palavra “sentimento” levou muitas vezes à falsa suposição de que a fé seria simplesmente uma questão de emoções sem nenhuma relação com algum conteúdo que se pudesse reconhecer e sem exigência a que cabe obediência.
Uma interpretação de fé que foi prontamente aceita por cientistas e políticos foi o pensamento do Schleiermacher. Ele descreveu a religião como sentimento de dependência incondicional. Sendo a palavra “sentimento” para este teólogo NÃO como algo vago e oscilante, mas que tem um conteúdo determinado. Mesmo assim a palavra “sentimento” levou muitas vezes à falsa suposição de que a fé seria simplesmente uma questão de emoções sem nenhuma relação com algum conteúdo que se pudesse reconhecer e sem exigência a que cabe obediência.
Essa exposição mostra a deficiência de uma concepção que entende a fé apenas como sentimento. Não há dúvida de que na fé como ato da pessoa inteira o elemento do sentimento está fortemente representado. Mas o sentimento não é a fonte da fé.
III. SÍMBOLOS DA FÉ
1. O Conceito de Símbolo
Aquilo que toca o homem incondicionalmente precisa ser expresso por meio de símbolos, porque a linguagem simbólica consegue expressar o incondicional. Aqui, diz o autor, que é importante explicar o termo “símbolo” já que as opiniões quanto a esse ponto ainda são muito divergentes. a) o autor distingue símbolos e sinais, e cada um deles receberam a sua função específica por um acordo entre o povo ou por convenções internacionais. Ex: o sinal vermelho no cruzamento, as letras os números, etc.- b) símbolo faz parte daquilo que ele indica. Ex.: a bandeira faz parte do poder e do prestígio da nação pela qual ela flutua.- c) o símbolo consiste em que ele nos leva a níveis da realidade que, não fosse ele, nos permaneceriam inacessíveis.- d)o símbolo abre dimensões e estruturas da nossa alma que correspondam às dimensões e estruturas da realidade.- e) os símbolos não podem ser inventados arbitrariamente. Eles provêm do inconsciente individual ou coletivo.
Finalizando, os símbolos genuínos existem nas diversas áreas da vida cultural. Todavia o tema que o autor quer abordar são os símbolos religiosos.
2. Os Símbolos Religiosos:
Tillich, portanto conclui que Deus é o símbolo fundamental da fé, mas não é o único. Todas as qualidades que lhe atribuimos, como poder, amor, justiça, provêm do âmbito de nossas experiências finitas e são projetadas sobre aquilo que se encontra além da finitude e infinitude. Quando a fé chama Deus de “onipotente”, ela utiliza a experiência humana do poder para designar simbolicamente o objeto de seu estar possuído incondicionalmente; mas com isso ela não caracteriza um ente supremo que pode fazer o que lhe apraz. (ibidem, p. 34)
3. Símbolo e Mito:
Os símbolos da fé não ocorrem individualmente. Eles estão associados a “história dos deuses”, pois é isso mesmo que significa originalmente a palavra grega mito. Mitos são, portanto, símbolos da fé associados a lendas, os quais falam dos encontros dos deuses entre si e dos deuses com os homens. Eles estão presentes em todo ato de crer, porque o símbolo é a linguagem da fé. Todos os elementos mitológicos presentes na Bíblia, na doutrina e na liturgia precisam ser reconhecidos como tais. Mas eles deveriam ser mantidos em sua forma simbólica, e não ser substituído por fórmulas científicas. Pois não há substitutos para símbolos e mitos, eles são a linguagem da fé.
Ao respeito da interpretação literal dos símbolos, Tillich diz que uma compreensão literal da Bíblia despoja Deus de sua incondicionalidade e, falando em termos religiosos, também de sua majestade. Ela o rebaixa ao nível do finito e condicionado. Em tudo isso não estamos diante de uma crítica racional, mas sim intra-religiosa. Uma fé que entende seus símbolos literalmente é idolatria. Ela chama de incondicional àquilo que é menos que incondicional. A fé, entretanto, que está consciente do caráter simbólico de seus símbolos dá a Deus a honra que lhe cabe. (ibidem p. 38 )
IV. Tipos de Fé
1. Os Elementos da Fé e sua Dinâmica
A fé cristã existe sob muitas formas, e isso vale tanto para o ato de crer como para o conteúdo da fé. O estado subjetivo do crente se transforma e provoca transformações dos símbolos da fé e vice-versa. Daí resultam tensões e lutas, tanto entre os diferentes tipos de fé dentro de uma comunidade religiosa bem como entre as grandes religiões.
Tillich afirma que: para a distinção dos tipos de fé são os dois elementos que estão presentes na experiência do sagrado. Já que o sagrado precisa estar presente e precisa ser experimentado como estando presente, se é que ele deve ser experimentado. Ao mesmo tempo o sagrado é o juízo sobre tudo que é. Ele exige santidade, no sentido de justiça e amor, tanto para o indivíduo como para o grupo. Ele chama o primeiro elemento na experiência do sagrado de “santidade do ser” (tipo ontológico), o segundo, de “santidade do dever” (tipo ético).
Tillich afirma que: para a distinção dos tipos de fé são os dois elementos que estão presentes na experiência do sagrado. Já que o sagrado precisa estar presente e precisa ser experimentado como estando presente, se é que ele deve ser experimentado. Ao mesmo tempo o sagrado é o juízo sobre tudo que é. Ele exige santidade, no sentido de justiça e amor, tanto para o indivíduo como para o grupo. Ele chama o primeiro elemento na experiência do sagrado de “santidade do ser” (tipo ontológico), o segundo, de “santidade do dever” (tipo ético).
Em toda religião a dinâmica da fé está consideravelmente definida por esses dois tipos e por sua interdependência e seu antagonismo. Eles estão presentes em todo ato de crer. A grandeza e o perigo da fé protestante está na autocrítica e na coragem de aceitar a própria relatividade. Daí a dinâmica da fé se manifestar mais fortemente no protestantismo do que em qualquer outro lugar: a inanulável tensão entre a incondicionalidade da exigência da fé e a condicionalidade da vida concreta de fé.
Com relação ao segundo ponto que fala sobre Os tipos Ontológicos de Fé, ele argumenta que: A fé vê numa porção concreta da realidade o fundamento último de toda realidade. Nenhuma parte da realidade está excluída da possibilidade de se tornar portadora do sagrado, e de fato quase tudo que é real foi no curso da história das religiões chamado uma vez, em atos de fé, de sagrado, seja por grupos ou por indivíduos. Ex.: este cálice, este pão, esta árvore, este gesto da mão, este ajoelhar-se, este edifício, este rio, esta cor, esta palavra, este livro, esta pessoa são portadores do sagrado. Através deles a pessoa crente experimenta aquilo que a toca incondicionalmente. Este tipo sacramental de fé se encontra em todo o mundo e aparece em todas as religiões. Ele é o “pão diário” da fé, sem o qual se tornaria vazia e abstrata, perdendo seu significado para a vida do indivíduo e do grupo.
Ao respeito do ponto número três sobre Os tipos Morais de Fé, Tillich diz que, ela é ou está envolvida com a lei. Deus é sobretudo aquele que deu a lei, como dádiva e exigência. Somente aquele que segue a lei pode chegar a Deus. È verdade que também a fé mística e sacramental conhece leis; também aqui ninguém consegue alcançar o último e incondicional, sem cumprir essas leis. No âmbito do tipo moral de fé podemos distinguir a forma jurídica, a convencional e a ética. Mas Tillich destacou a mais influente de todas as variações do tipo moral de fé evidenciou-se a terceira forma: a religião do Antigo Testamento. Como toda forma de fé, também ela tem uma ampla base sacramental: a idéia do povo eleito, do pacto entre Deus e o povo, e a fé ritual em toda a sua riqueza. No entanto, a experiência da santidade do ser nunca afastou a santidade do dever. Para os profetas e seus sucessores, sacerdotes, rabinos, teólogos o caminho para Deus se encontra apenas na obediência à lei da justiça. A lei divina é a preocupação suprema e incondicional, e isso tanto no Antigo Testamento como no judaísmo moderno.
Com relação ao numeral quatro que trata sobre A unidade dos Tipos de Fé, ele comenta que a história de fé, que é muito mais ampla do que a história da religião, é uma contínua oscilação de convergência e divergência dos mais diferentes tipos de fé. Isso vale tanto para a forma da fé como para o conteúdo da fé. Ele diz que o catolicismo caracterizou a si mesmo, um sistema que engloba elementos culturais e religiosos divergentes entre si. Suas fontes são: o Antigo Testamento, que em si já reúne o tipo sacramental e o moral, as religiões helênicas de mistérios, a mística, o humanismo clássico grego e o modo de pensar científico da antiguidade tardia. Esse é o ponto em que entrou o protesto protestante na época da Reforma. E é o ponto em que o protesto Protestante precisa ser levantado em todos os tempos em nome da incondicionalidade.
A crítica básica de todos os grupos protestantes ao catolicismo se volta contra o fato de que o sistema autoritário excluiu a autocrítica da igreja e que os elementos sacramentais da fé sufocaram os elementos proféticos. Uma vez que o sistema autoritário tornou impossível uma reforma de base, restou apenas uma cisão total. Essa, porém, também trouxe consigo a perda daqueles elementos contra os quais se dirigira a Reforma Protestante: o sacramentalismo e a autoridade da igreja nele baseados. Em conseqüência dessa perda, o protestantismo se tornou cada vez mais um representante unilateral do tipo moral de fé. Não se perdeu apenas a riqueza dos ritos transmitidos pela tradição, mas também a compreensão do fato de que o sagrado está presente em experiências sacramentais e místicas.
SOLI DEO GLORIA
REV. RUBEN DARIO DAZA.
Este trabalho foi apressentado ao Professor Dr. Alberto F. Roldán no Seminário Teológico "Rev. Antonio de Godoy Sobrinho da Cidade de Londrina (Paraná), como estudante de 3º ano no dia 22/06/99.
Para lêr em portuês sobre outros temas:
1.- Jesus tem o controle de toda a Natureza. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/03/jesus-senhor-de-toda-natureza.html
2.- Jesus vem a nosso encontro. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/04/jesus-vem-nosso-encontro.html
3.- Pascoa, permaneçam em mim. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/04/pascoa-permanecam-em-mim_03.html
4.- As Palmas das Mãos de Deus. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/06/as-palmas-das-maos-de-deus.html
5.- A teologia de Libertação e o Protestantismo Brasileiro. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/06/teologia-da-libertacao-e-o.html
6.- Aquele com quem se pode contar. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/07/aquele-com-quem-se-pode-contar.html
7.- A Vitória Definitiva do Crente Sobre a Morte: A Vida. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/07/vitoria-definitiva-do-crente-sobre.html
8.- Ensina-os a contar os nossos dias.Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/08/ensina-nos-contar-os-nossos-dias.html
9.- Teologia e a Libertação na teologia latino-americana e suas contribuições na América Latina. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/08/teologia-e-libertacao-na-teologia.html
10.- Reflexão Pastoral: Provérbios 13,22. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/reflexao-pastoral-proverbios-1322.html
11.- A Volta de Cristo: Uma Reflexão Cristã abordando J. Moltmann. link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/o-que-penso-sobre-volta-de-cristo.html
12.- Deus é Luz: Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/deus-e-luz.html
13.- ISAÍAS : 26, 1- 6: Um Estudo Exegético. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/i-texto-1.html
14.- ECUMENISMO: Uma reflexão Teológica. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/ecumenismo-uma-reflexao-teologica.html
15.- PAUL TILLICH: Dinâmica da Fé. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/paul-tillich-dinamica-da-fe.html
16.- ISAÍAS : 63, 1- 6: Um Estudo Exegético. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/isaias-63-1-6-um-estudo-exegetico.html
17.- A CURA COMO AÇÃO SALVÍFICA DE DEUS : Teologia Bíblica do AT. e NT. O tema da Cura consta de tres escritos inéditos sobre a minha monografia no Seminário de 4º ano. Acesse o seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/cura-como-acao-salvifica-de-deus.html
18.- O Estudo do ponto de vista teológico sobre a cura como ação salvífica de Deus. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/teologia-sistematica-cura-fisica-como.html
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