jueves, 27 de octubre de 2011

ISAÍAS : 63, 1- 6: Um Estudo Exegético




I -  TEXTO


1. Texto Hebraico:  Isaías  63: 1 - 6


2.      Tradução :  Isaías 63: 1-6


v.1  Quem  é  este que vem de Edom,   da parte de Bozra,
levedado [inflamado] com vestes,  este que é tratado com distinção em sua vestidura, marchando [1]  com a grandeza de seu poder ?  
Eu, que falo com justiça,   poderoso para salvar.

                            v. 2  Por que [este]  vermelho na tua veste,  e as tuas vestiduras como [de alguém] que pisa no lagar ?


                            v. 3  Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos nenhum homem se [achava] junto comigo; e Eu os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou sobre as minhas vestes, e manchei toda as  minhas  vestiduras [caras].

                            v. 4   Porque o dia da vingança  [estava] no meu coração, e o ano da minha vingança de morte é chegado.


                            v. 5   E olhei, e não [havia] quem me ajudasse; e espantei-me por não existir quem me apoiasse; e o meu braço me salvou, e o meu furor me sustentou.

                            v. 6   E esmaguei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e derramei  por  terra  o  seu  sangue.
  
II - Delimitação

A delimitação de  Isaías 63: 1-6 pode ser feita à base dos seguintes critérios internos: A. Conteúdo; B. Cesuras

A.- Conteúdo

Isaías 63: 1-6  é um texto diferente e especial com relação ao cap. 62 , e à perícope mais próxima  cap. 63:7-14. Manifesta uma unidade autônoma porque seu conteúdo possui uma mensagem própria e característica, distinta da mensagem dos textos anteriores e posteriores. Desenvolve um assunto diferente.  A perícope em estudo é bem construído, coeso gramatical e lexicalmente, é coerente por ser organizado e ter continuidade de sentido. Com relação a seu conteúdo, este poema é concebido como um diálogo entre Javé e o seu profeta, ou melhor, com os guardas de Jerusalém (cf. 62:6), que o profeta toma como seus porta-vozes (v.1 e 2.); guardas estes que perguntam duas vezes: primeiro na terceira pessoa, a respeito da personagem que se aproxima; depois na segunda pessoa, à personagem que vem na frente. As duas vezes responde aquele que vem vindo, apresentando-se. Basta-lhe dizer “eu”, sem pronunciar seu nome. Usando a imagem do vinhateiro com as roupas manchadas pelo suco da uva (v.3), Javé é apresentado como o vingador e justiceiro de Israel (v.1); que vem trazer justiça, salvação, redenção pela força do seu braço (v. 5-6), agindo sozinho para convencer os opressores e libertar os oprimidos.

B. Cesura

Nas edições científicas do Antigo Testamento Hebraico, o texto é demarcado por pequenos espaços em branco (cesuras) para indicar o início de uma nova unidade ou sub-unidade. Na perícope em apreço há duas cesuras que delimitam o texto no v.1  e no v. 6.   

Portanto, a perícope pode-se delimitar, à base dos critérios internos acima alistados, os vv. 1 – 6  como uma sub-unidade que está entre  dois textos cap. 62: 1-12  e  cap. 63: 7-14. Destacamos aqui o uso das repetições de palavras e assonâncias  neste texto.
                      

III -  Análise Textual

                      1. Análise Morfo-Estrutural

                        1.1 - Gênero Literário

Não existe um consenso a respeito do gênero literário desta perícope de Is 63:1-6. Não obstante C. WESTERMANN o classificou como um Poema Apocalíptico [2] sendo concebido como um diálogo entre duas pessoas na forma de pergunta e resposta. N. GOTTWALD o classificou como um gênero de Teofania de julgamento/redenção [3].  A. NASHVILLE argumenta que: este pequeno poema pertence à literatura do julgamento escatológico. Julgamento este que se desenvolve em forma de diálogo entre o profeta e Javé, que avança como guerreiro com as vestes manchadas de sangue, descreve-se a vitória escatológica de Deus sob a figura do massacre de Edom [4].  Todavia a discussão se dá, no entanto, em torno da classificação de Isaías 63: 1-6. Esse hino pode ser designado de “apocalíptico ou escatológico” ?

Para classificar essa perícope, num interessante ensaio, CRISTOFANI, J. R. argumenta o seguinte:

… o próprio gênero apocalíptico é um compósito de diversos sub-gêneros que alista como segue: comunicação de visão, vaticinia ex eventu, pareneses, estórias, fábulas, gêneros litúrgicos (bênçãos, lamento, hinos e orações), …e previsões escatológicas. Portanto o gênero literário apocalíptico é um macrogênero que provê uma moldura contendo várias formas menores juntas. (Apud J.J. Collins, Daniel with na Introduction to Apocalyptic Literature, p. 92.)  [5]

Nesta mesma linha de pensamento, percebemos que a composição interna desta perícope traz consigo traços bem marcados de uma Teofania pelos elementos que contem: primeiro, o anúncio da vinda de Javé fora de um lugar determinado … que vem de Edom; no segundo lugar a intervenção belicosa de Javé vindo em socorro de seu povo.


“Na origem do gênero teofânico está, segundo JEREMIAS E WESTERMANN, o mesmo ambiente cultual a que se devem os mais antigos exemplos do gênero hínico. Na Bíblia conhece a alegria do universo ao aparecimento de Javé (Cf. Sl 96,11s; 97,1; 68,8s; Is 6:1-5; 63:9). E não se deve esquecer o motivo da guerra santa, largamente difundido no Antigo Oriente Médio. Discute-se o Sitz im Leben: poderia ser, no caso, a celebração da vitória ou a entrada de Javé na guerra e seus magníficos feitos. Quando o motivo das guerras de Javé foi perdendo o significado, tornou-se Sitz im Leben o dia de Javé/ o dia da vingança  da tradição profética. [6]

  
Portanto, Isaías 63: 1-6  pode-se classificar como uma Teofania de Javé com um anúncio de salvação, que avança como um guerreiro num cenário Apocalíptico. A nossa perícope está em ligação com o poema de Is 59:15b-20.


                    Este gênero de Teofania, compreende em seus elementos formais de dois membros como valvas de um díptico mais ou menos desenvolvidos, nessa forma hínica, visto que possui os seguintes elementos [7]:


1.    Prelúdio: Anuncia-se a vinda de Javé fora de um lugar determinado… Quem é este que Vem de Edom , da parte de Bozra? . O convite às sentinelas parece iniciar diálogo às portas da cidade. A forma de perguntas e respostas à entrada de uma pessoa importante de quem ele vê aproximar-se rapidamente é a de um Vencedor poderoso do Sul.  A resposta entra em seguida em palavra e evento: Sou Eu, anunciando justiça, poderoso para salvar.   (v. 1)

2.  Há uma transição literária no v.2 que começa com duas perguntas.

3.       O corpo do hino  (vv. 3 - 6). Aqui se descreve que o rei vitorioso precisou enfrentar o inimigo, que retinha seus despojos e não os deixava ir livremente; na realidade, não foi fácil fazer triunfar a justiça, o direito dos oprimidos. Por isso foi dramática a libertação, e o guerreiro traz os sinais do combate. O dia de graça era dia de vingança; a graça foi descrita no que precede; a vingança, nestes versos.[8]


Assim, pode-se visualizar o poema no seguinte esquema:


Prelúdio
Enunciação da
vinda de Javé


v.1 – Quem  é  este que vem de Edom,   da parte de Bozra,
levedado [inflamado] com vestes,  este que é tratado com distinção em sua vestidura, marchando com a grandeza de seu poder ?   Eu, que falo com justiça,   poderoso para salvar.

Transição
O por que das vestes manchadas

v. 2 – Por que [este]  vermelho na tua veste,  e as tuas vestiduras como [de alguém] que pisa no lagar ?


Corpo
Intervenção belicosa de Javé vindo em socorro de seu povo.
v. 3  Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos nenhum homem se [achava] junto comigo; e Eu os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou sobre as minhas vestes, e manchei toda as  minhas  vestiduras [caras].

v. 4   Porque o dia da vingança  [estava] no meu coração, e o ano da minha vingança de morte é chegado.

v. 5   E olhei, e não [havia] quem me ajudasse; e espantei-me por não existir quem me apoiasse; e o meu braço me salvou, e o meu furor me sustentou.

v. 6   E esmaguei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e derramei  por  terra  o  seu  sangue.


1.2 – Estrutura  Literária

A estruturação de Isaías 63: 1-6,pode ser feita da seguinte maneira, a partir das indicações analisadas na delimitação e no gênero literário. Ele está dividido em duas estrofes temáticas principais (vv. 2-3  e  vv. 4-6), tendo como abertura um prelúdio Teofânico de anunciação do vencedor de Edom (v. 1a).

a. Prelúdio : O Vencedor de Edom (63:1)  [9]


v:1 Quem é este que vem de Edom? É a primeira ocorrência de palavras que se desenvolve no tema completo para a pergunta introdutória dum prelúdio clássico de uma Teofania (cf. Salmos 24:8,10). Na minha própria visão, diz Westermann, porém, não há nenhuma razão constrangedora ou suficiente por alterar. Duhm objetou que a pergunta em v. 1a antecipa uma parte a resposta. Mas isto perde sua força se nós dizemos que, mostrando um grau considerável de arte, o poeta inseriu "De Edom" e " de Bozra " para indicar a cena de eventos, Cf. Is 34:6. Assim também com a palavra paralela Bozra que foi semelhantemente corrigida a "vindima ". Ambos são jogados no vs. 2. Bozra era a cidade principal de Edom. Na primeira resposta fala-se a respeito de litígio celebrado a favor da justiça. Um litígio não explica o aparato; por isso a pergunta necessita de mais precisão.


b.  Primeira Estrofe: O Esmagador do lagar de Vinho (vv.2-3) 

            À pergunta do profeta sobre os vestuários vermelhos vem a resposta que é do Vencedor que, é na realidade o Pisador do Lagar de vinho. A figura é grandiosa em suas perspectivas escatológicas (Cf. 59:15c-20).

No V.2 a palavra vermelho tem as mesmas consoantes como Edom em sua forma diminuída. É a comparação do profeta para o lagar de vinho que dá a chave à resposta. [10]   v.3) Na sua tarefa de libertar o oprimido e executar a sentença contra o opressor, ele não encontra aliados humanos: o oprimido não pode auxiliá-lo, outros povos não podem ou se desinteressam. Então, sua rebeldia interna diante da injustiça (61:8), sua indignação perante o crime, denominadas essas furor e ira, comunicam-lhe forças e o sustentam no combate. Seu braço gigantesco e também seus pés poderosos realizam a empresa. O quadro é sumamente realista. O sangue das uvas é o sangue do povo que flui do lagar de vinho (para a figura Joel 4:13). O Rolos do Mar Morto lê de maneira interessante, " e de meu povo ", ex.: Javé não foi ajudado pelo próprio povo dele. Javé só, sumamente em poder e salvação, traz o julgamento às nações. Como sempre, os eventos são descritos como já tendo acontecido. [11]

c.         Segunda Estrofe: O Dia de Vingança (63:4-6) 

O clímax da perícope está aqui, e o ponto do poema é introduzido com a característica  O dia de Javé ” é um dia de julgamento universal. 

V.4 Durante muito tempo ele se conteve; agora é chegado o dia da vingança contra o opressor, dia esse que é o resgate do oprimido. O verbo  goel aqui pode ser mero sinônimo do termo “vingança”, poderia também explicar sua equivalência incluindo o resgate dos escravos. Ambas as expressões referem-se à época da redenção, quando o Senhor redimir o  Seu povo destruindo os seus inimigos.[12]

v.5  Javé com o seu braço poderoso provocou a grande vitória; salvação trazida literal (cf. vv. 1-2).A ênfase é novamente dada ao fato de que em lugar algum o Senhor encontrara alguém para ajudá-lo ou sustentá-lo, e que o Seu próprio braço (isto é a força) operara a salvação.  v. 6 Em sua ira, Ele pisara as nações, e as tornara “embriagadas” com o Seu Furor. A ira de Deus é pintada novamente como bebida alcoólica. Da mesma forma como a pessoa perde a sua força ao beber, as nações são vencidas e tornam-se impotentes, ao serem forçadas a beber da ira de Deus. Ele fizera com que o “sangue” delas corresse pela terra. [13]

            Esquematicamente a estrutura literária do hino em Isaías 63: 1-6, pode ser vista assim: 

 
Prelúdio
O Vencedor de Edom


v.1 – Quem  é  este que vem de Edom,   da parte de Bozra,
levedado [inflamado] com vestes,  este que é tratado com distinção em sua vestidura, marchando com a grandeza de seu poder ?   Eu, que falo com justiça,   poderoso para salvar.


1ª Estrofe
O Pisador do Lagar de Vinho
v. 2 – Por que [este]  vermelho na tua veste,  e as tuas vestiduras como [de alguém] que pisa no lagar ?
v. 3  Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos nenhum homem se [achava] junto comigo; e Eu os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou sobre as minhas vestes, e manchei toda as  minhas  vestiduras [caras].

2ª Estrofe
O Dia da Vingança
v. 4   Porque o dia da vingança  [estava] no meu coração, e o ano da minha vingança de morte é chegado.
v. 5   E olhei, e não [havia] quem me ajudasse; e espantei-me por não existir quem me apoiasse; e o meu braço me salvou, e o meu furor me sustentou.
v. 6   E esmaguei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e derramei  por  terra  o  seu  sangue.


1.3 - Análise Retórico-Estilística

A perícope de Isaías 63: 1-6  nos mostra os seguintes recursos estilísticos:

1.3.1           Paralelismo

a)     Sinonímico – encontra-se nos versículos seguintes: v. 2ab; 4ab

b)     Antitético- aparece no versículo:  v. 5

c)     Sintético – só aparece no versículo : v.6

d) Climático –  encontra-se nos seguintes versículos: v. 1abc ; 3abc.

Os paralelismos alistados acima nos ajudam a compreender as idéias que se complementam, se contrastam, se expandem e se relacionam,  contribuindo, assim, para reforçar e esclarecer o sentido do texto.

1.3.2   Figuras de Linguagem


a)     BULLINGER e LACUEVA, classificou em sua totalidade esta perícope 63:1-6 como Dialogismo, figura literária esta, que se dá quando se representam duas ou mais pessoas falando sobre algo, ao invés de falar tudo uma só. Isto é o que chamamos corriqueiramente de diálogo . Às vezes, o que fala faz como que apresenta a outra pessoa conversando com ele, e usa as palavras dessa pessoa adaptândoas ao tema em questão.[14]

b)     ERÓTESES OU INTERROGAÇÃO: Esta figura encontra-se na Bíblia quando um orador ou escritor faz perguntas de forma, com ou sem argumentação mas que indica certa admiração pelo seu estilo, e que podia esperar ou não resposta: v.  1 e 2. [15]

c)  Sinédoque – consiste em ampliar ou restringir a extensão de palavras, da parte substituindo o todo; no caso temos a expressão no v. 4 indicando uma parte de tempo, por todo o tempo: …e o ano [isto é, o tempo] da minha vingança de morte é chegado. [16]

2 - Análise  Semântica
A continuação faremos análise Semântica através dos eixos mais importantes na procura do significado exato de termos, expressões e conceitos no conteúdo literal dos versículos que sejam relevantes para o correto entendimento do texto.

                        Os critérios aqui usados para selecionar as palavras, frases e idéias para análise semântica, podem ser pelo número de ocorrências, como é o caso da palavra:

a)     vestes dg<B,, vestiduras vWbl que se encontram nos vv. 1,2 e 3. Para o profeta estas palavras indicam que são roupas próprias para a participação em alguma festa. Os trajes comuns de uma pessoa são mudados por vestes festivais, que davam o privilégio de tal pessoa participar de uma festa ou banquete. Dentre todos os usos figurados, o mais significativo é aquele que assemelha às vestimentas a justiça divina imputada ao homem. Aqui, Javé que vem de Edom traz consigo as vestes de opulência, de glória e vitória dando-lhe qualidades abstratas como força e dignidade.  Portanto, a palavra vestes, vestiduras para o profeta significam a demonstração de distinção em sua vestidura de um guerreiro vencedor dotado de poder e força, para fazer triunfar a justiça e dar libertação aos oprimidos. [17]

b)     Temos o vocábulo poder x;Ko; ; grandeza bro ; poderoso br. São epítetos para designar que Javé manifesta sua onipotência por suas intervenções aqui na terra. Poder este que se exerce com soberania, e que por sua mão ou seu braço forte e estendido liberta seu povo na gesta do Êxodo; por esta libertação sem precedente, Javé, Deus de Israel, se revela como o único Todo-Poderoso no céu e na terra.  Chefe dos exércitos de Israel, Javé é um guerreiro que dá vitória a seu povo e que o torna forte com a sua intervenção. De toda maneira, é Javé que é a força do povo, Israel não pode ficar sem salvação, pois essa força é a do Deus que ama a Israel. Para Isaías, grandeza e poder são atributos essenciais da divindade. Os caminhos do Senhor continuam os mesmos ao longo da história (v.1b …que marcha com a grandeza de seu poder ) para realizar seus desígnios, Deus suscita os poderosos deste mundo. Quando Deus deseja castigar seu povo pelo exílio, Nabucodonosor é seu servo; e quando a provação está terminada, Ciro recebe de Deus seu poder universal para ordenar o retorno a Sião, sendo portanto, esse novo Êxodo é a obra do Todo-poderoso que dá novas formas aos que nele esperam.

c)      O vocábulo Edom  ~Ada  e  sua capital Bozra hr'c.B'. Sob o império assírio, Edom é mencionado entre os tributários, entre 700 e 650. Sob o império babilônico, os edomitas se espalharam pela montanha de Judá, em detrimento de seus habitantes (Ez 25:12-15). Um pouco mais tarde, em condições pouco conhecidas, eles são expulsos de seu país de origem, com grande alegria do Profeta Abdias. Todos são transferidos para a antiga montanha de Judá, e que por ter aproveitado da vitória Babilônica eles se encarniçaram contra o que restava do Estado judeense, daí que se havia tornado o inimigo-tipo de Jerusalém e como que o porta-estandarte das nações levantadas contra o Senhor. Cf. sobretudo Is 34, o texto mais próximo da nossa passagem. [18]

d)     Com relação ao termo Justiça hq'd'c e o vocábulo Salvar [vy . Esta palavra justiça, evoca em primeiro lugar uma ordem jurídica: o juiz faz justiça, fazendo respeitar o costume ou a lei. No sentido religioso, isto é, quando se trata das relações para com Deus, e por certo comum evocar a Deus como justo juiz e chamar julgamento o último confronto entre o homem e Deus. Para o profeta, portanto, a justiça exercida por Deus assume um relevo e um alcance que pronunciam dos antigos poemas guerreiros ou religiosos celebram a justiça divina no sentido concreto: ora julgamento punitivo contra os inimigos de Israel, ora (notadamente no plural: as justiças) libertações concedidas ao povo eleito; onde também o emprego correspondente de justificar. Na nossa perícope a justiça de Deus é ora salvação do povo cativo, ora o atributo divino misericórdia ou fidelidade. Essa salvação é um Dom, transcendendo de muito a idéia de libertação ou de recompensa; implica na concessão de bens celestes, como a paz e a glória a um povo que não tem outro “mérito” senão o de ser o eleito de Javé.[19]

e)     Agora trabalharemos os significados dos vocábulos o Dia da Vingança e o Ano da minha Vingança de morte. O termo teofania ela envolve uma celebração da vitória ou a entrada de Javé na guerra e seus magníficos feitos. Quando o motivo das guerras de Javé foi perdendo o significado, tornou-se Sitz im Leben o dia de Javé, ou dia de vingança da tradição profética. SICRE diz que: no oráculo clássico, a condenação Ter-se-ia limitado aos malvados chefes do culto, acusados por seus pecados; aqui desaparecem todas as limitações, já que se trata de julgamento universal em sua intenção, que se estende desde o ocidente até o nascer do sol. A esperança duma intervenção fulgurante de Javé em favor de Israel  encontra-se o mesmo esquema que descreve o Dia do Senhor. Javé lança seu grito de guerra: “Próximo está o dia da vingança e reúne seus exércitos para o combate (Is 34:4) e então o mundo é devastado, é um dia de nuvens, de fogo e os céus se enrolam e a terra treme. É para o seu termo que Javé conduz a história. O anúncio dum Dia de Javé para Israel irá portanto transformar-se em anúncio dum Dia para o mundo inteiro. Esse dia não terá lugar no curso do tempo, mas no fim dos tempos, no fim do mundo presente. Estamos às portas da apocalíptica, com sua idéia de mundo mau presente que abrirá caminho ao mundo bom futuro. [20]

F)      Os termos ira @a;  furor hm'xe ; Estes verbetes implicam diretamente um fato de que Deus se ira e que tem uma paixão violenta. Toda espécie de imagens afluem sob a inspiração bíblica, reunidas por Isaías (vv. 3 e 5) A conseqüência dessa ira é a morte com suas concomitâncias. Fome derrota ou peste. Essa ira tomba sobre todos os culpados endurecidos ; em primeiro lugar sobre Israel, pois está mais perto do Deus santo, sobre a comunidade como sobre os indivíduos; em seguida, também sobre os indivíduos; em seguida, também sobre as nações pois Javé é o Deus de toda a terra. [21]

           O sangue xc;nE: Como todas as religiões antigas, a de Israel reconhece no sangue um caráter sagrado, pois o sangue é a vida, e tudo que toca a vida está em estreita relação com Deus, único Senhor da vida. O sangue tem uso cultual nos ritos das liturgias de “expiação, pois é o sangue que expia, e aí é obtida através da morte da vítima. Daí seu caráter sagrado; Para o profeta o binômio “carne e sangue” designa o homem em sua natureza perecível. Mas visto que o uso do sangue requer a morte de alguma vítima, o sangue era associado à morte. [22]

            IV- ANÁLISE  CONTEXTUAL

1.     Contexto  Literário

O contexto literário de Isaías 63: 1-6 é composto pelo contexto imediato com relação à perícope posterior e à anterior, os vários eixos semânticos do passo anterior servirão de guias para este análise.

Isaías 63: 1-6 é antecedido pelo 62:1-12  e que proclama que Deus promete a glória futura de Jerusalém. Nos vv. 11-12 falam daquele que vem trazer justiça, salvação, redenção.    A vingança pela força do seu braço no v. 8.

Com relação à perícope posterior 63:7-64:11, trata-se de uma súplica em que está presente a confissão de pecados. No v.8-9 têm a palavra Salvador lembrando-lhes que foi Javé quem os salvou.  No v. 18 mencionam que os agressores esmagaram o teu santuário. No 64:1-6 temos uma autentica Teofania de Javé, que traz alegria por praticar a justiça 64:4. No v.8 tem o relato da ira do Senhor contra o seu povo.

Neste contexto, a perícope de Isaías 63: 1-6  está inserido no grande bloco compreendido nos caps. 56-66 comumente chamado de Trito-Isaías e que pressupõe a volta à Palestina e a reconstrução do templo. Ademais as mudanças no estilo, situação, tópico e humor dentro de 56-66 não oferecem crédito à opinião de que estes capítulos sejam uma unidade estrutural criada por um único autor. Em seu interior acrescente-se uma sub-unidade nos cap. 63-64: o breve poema de 63:1-6 faz contraste com o que precede, embora a vingança que ele profere tenha ponto de apoio em 61,2 (em 59,17 e 63,4, encontra-se o termo “ vingança”). Ele amplifica, em termos vigorosos, 59:15-20.
Há toda uma série de caps. que refletem uma atitude mais agressiva com os povos estrangeiros, anunciando-lhes o castigo (60:2; 63:1-6; 66:6,15-16). Parecem querer contestar outros textos, trito-isaianos, considerados muito generosos para essas nações (56:1-8; 58:13-14; 66:18-21).Com relação ao termo Edom ele se repete no cap. 34 que é o texto mais próximo da nossa passagem e em Jr 49:7-22; Lm 4:21-22; Sl 137:7; Ez 25:12-14; 35:1-36:5.
Portanto, a figura de Javé como Deus Salvador, fiel e justo é comum no livro de Isaías. Neste sentido, argumenta Westermann: Israel aprendeu que Deus não era somente o Salvador dos apuros causados por inimigos, mas também dos apertos elementares da existência humana. [23]

2. Contexto Sócio-Histórico
Aqui analisaremos as informações do Sitz im Leben (situação vital) com os elementos sócio-histórico que envolvem Isaías 63: 1-6.

Em trito-Isaías perpassa a idéia de uma comunidade portadora de esperança: a coleção de Is 56-66 nasceu de decepção superada e de esperança inquebrantável. O profeta convida seus compatriotas a compreenderem a oportunidade de sua situação miserável e lhes abre perspectivas infinitas. Ele está convencido da vinda próxima da salvação e da justiça de Deus, duas expressões que lhe são caras.

A orientação escatológica se precisa nos últimos capítulos. Pouco orientado para as estruturas da comunidade, o redator não volta sua atenção para personagem que seria o mediador da salvação. Mas a figura do profeta que recebeu a unção para levar a boa nova aos pobres, teve papel importante na maneira pela qual  Lucas compreendeu a pessoa  e a função de Jesus.[24]
Portanto Isaías 63: 1-6  é datado por SELLIN e FOHRER (1977, pp. 582) posterior ao exílio, não se podendo determinar exatamente em que datas. Em resumo estes capítulos do livro de Isaías, confirmam a importância do tema da justiça para a profecia pós-exílica. (SICRE, J. 1990, PP. 575).

V – SINTESE DO SIGNIFICADO

Esta profecia aparece ainda mais claramente em 63:1-6, uma perícope que originariamente foi formulada como diálogo de saudação ao herói em seu regresso do campo de batalha, e à qual se segue a autoglorificação do herói. O profeta descreve, assim, não só de que modo Javé regressa como vencedor, com as vestes salpicadas do sangue de seus inimigos, como, igualmente, de que forma ele resgata seu povo, com uma vingança escatológica exercida contra as nações.

        VI.  Re-leitura  Isaías 63: 1-6
         

A.  Teológica


É claro, que a mensagem central que o profeta Isaías quer nos dar, á a de um Deus justo e que tem poder para salvar. Neste sentido, WESTERMANN [25], argumenta que “descrevendo o Antigo Testamento a salvação nas áreas diferentes do povo, do indivíduo e do gênero humano, ele quer insinuar a universalidade do Deus-salvador. Todo homem já teve as provas disto, em toda a parte e em todos os tempos”.

Percebemos que Antigo e Novo Testamento conhecem um Deus- salvador, tanto para o povo judeu como para os cristãos dos primórdios, a salvação é objeto de experiência pessoal. Não apenas uma proclamação verbal; é encontro com o  Salvador; o beneficiado e o seu salvador começam a formar uma unidade espiritual, Israel traduz de bom grado esta experiência, este conhecimento, em sua oração (Salmos).  Os indivíduos fazem o mesmo; desfiam em suas orações, primeiro suplicantes, depois agradecidos, todas as desgraças que podem afligir os crentes; a doença, a morte, mas também a injustiça, e até os obstáculos que põem a fé em perigo (Sl 6,5; 18,20; 116, 4-6; 138,7), são todos sofrimentos dos quais Deus salva (Sl 27,1 ; 42,6).

Portanto, o anúncio de salvação, no Antigo Testamento, já  integra esta salvação. A mensagem cria estado de tensão e de expectativa que, após o ato salvador, forma com este uma unidade. Estas unidades variam de acordo com os tipos de libertação e de intervenção divinas. A variedade das formas de anúncios caracteriza o Antigo Testamento e a sua história entre Deus e o homem.


B.      ATUALIZAÇÃO

SALVAÇÃO  NA  AMERICA LATINA:


            Dada a unidade da história da salvação, pode-se afirmar que processo de verdadeira libertação é sinônimo de história da salvação. Processo este que exige mais participação, fraternidade e justiça, ele presencializa, nas condições do tempo presente, a salvação.

            A situação de hoje nos conclama a colocarmos o acento principal no aspecto social, econômico e político da libertação, porque é nestas articulações que o homem faz a experiência maior de opressão e de pecado social e é ali o lugar onde pode viver mais radicalmente o que seja a libertação de Cristo também concretizada nestes setores da vida humana.

            Evangelho e serviço no ministério da Igreja têm uma relação estreita. Se analisarmos a missão de serviço de Cristo, falaremos que ele “salvou a humanidade do pecado”;  duma humanidade confusa, carente, pobre, oprimido, que vive sob estruturas sociais injustas e que está nas garras do pecado, e, incapacitado para obter a liberdade e criar uma vida mais humana.    

              Destaca-se aqui que toda a Bíblia está marcada pelo amor de predileção de Deus pelos fracos e maltratados da história humana. A opção preferencial pelo pobre não é por isso apenas uma pauta pastoral e uma perspectiva de reflexão teológica, é um itinerário no encontro com Deus e com a gratuidade de seu amor, seu poder, fidelidade e justiça, uma caminhada “perante Javé nosso Salvador… na terra dos vivos” (Sl 116.9). Se não se chega a este nível de espiritualidade, de seguimento a Jesus, isto é, até o coração da vida cristã, não se percebe o alcance e a fecundidade dessa opção.

                           SOLI DEO GLORIA!

REV. RUBEN DARIO DAZA


[1] h[,co = curvar-se; inclinando-se. Aqui a tradução foi feita usando a palavra pelo aparato crítico h[eco: marchando, andando.
[2] WESTERMANN, C. Isaiah 40-66: a commentary. Pp. 384; Cf. Também
[3] GOTTWALD, N. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. Pp.472
[4] NASHVILLE, A. The Interpreters Bible: The Holy Scriptures. Vol. V- Isaiah 56-66. Pp. 724; Cf. BALLARINI, T. Profetismo e Profetas em Geral II/3: Isaías. Pp. 222. ; FOHRER, G. História da Religião de Israel. Pp.418.
[5] CRISTÓFANI, J. R. A Origem Social da Apocalíptica Judaica a partir de Daniel 11,29-35. P.54.
[6] BALLARINI, T. – REALI, V. A Poética Hebraica e os Salmos. Introdução à Bíblia III/2. Pp. 63s.
[7] MONLOUBOU, Louis. Os Salmos e os outros Escritos. Pp. 63.
[8] SCHÖKEL, L. Alonso / SICRE, J. L. Profetas Isaías 26: 1-6 – Isaías, Jeremias. Pp. 387
[9] WESTERMANN, C. Op. Cit. Pp.381
[10] NASHVILLE, A. Op. Cit. Pp. 726
[11] idem, ibidem,  Pp. 727.

[12] SCHÖKEL, L. Alonso / SICRE, J. L. Op. Cit.  Pp. 388
[13] RIDDERBOS, J.  Isaías: introdução e comentário. Pp. 496.
[14] BULLINGER, E. /LACUEVA, F. Diccionario de Figuras de Dicción usadas en la Biblia. Pp. 789
[15]  idem, ibidem, pp. 783.

[16] BULLINGER, E. /LACUEVA, F. Op. Cit. Pp. 570.
[17] BOWLING, A. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento : Vocábulo: vestimenta, roupa. Pp.770
[18] MONLOUBOU, L. & DU BUIT F. M. Dicionário Bíblico Universal. Pp. 208
[19] VVAA. Vocabulário de Teologia Bíblica. Pp. 504 ss.
[20] SICRE, J. L. A Justiça Social nos Profetas. Pp. 574.
[21] Vocabulário de Teologia Bíblica. PP. 449.
[22] CHAMPLIN. R. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6. Pp. 104.

[23] WESTERMANN, Claus. Teologia do Antigo Testamento . 1987, pp. 33
[24] AMSLER, S et, alli. Os Profetas e os Livros Proféticos. Pp 391.
[25] WESTERMANN, Claus, Teologia do Antigo Testamento, 1987, pp.  33


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Para lêr em português sobre outros temas:





5.- A teologia de Libertação e o Protestantismo Brasileiro. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/06/teologia-da-libertacao-e-o.html


7.- A Vitória Definitiva do Crente Sobre a Morte: A Vida. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/07/vitoria-definitiva-do-crente-sobre.html


9.- Teologia e a Libertação na teologia latino-americana e suas contribuições na América Latina. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/08/teologia-e-libertacao-na-teologia.html


11.- A Volta de Cristo: Uma Reflexão Cristã abordando J. Moltmann. link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/o-que-penso-sobre-volta-de-cristo.html


13.- ISAÍAS : 26, 1- 6: Um Estudo Exegético. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/i-texto-1.html




17.- A CURA COMO AÇÃO SALVÍFICA DE DEUS : Teologia Bíblica do AT. e NT. O tema da Cura consta de tres escritos inéditos sobre a minha monografia no Seminário de 4º ano. Acesse o seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/cura-como-acao-salvifica-de-deus.html

18.- O Estudo do ponto de vista teológico sobre a cura como ação salvífica de Deus. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/teologia-sistematica-cura-fisica-como.html

19.- A leitura da Bíblia diante dos desafios da realidade atual. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/julio-paulo-tavares-zabatiero-diretor.html

20.- Para lêr Exégese do Salmo 113, clike no seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2012/08/exegesedo-antigo-testamento-salmo-113.html

21.- Para lêr Exégese de 1Coríntios Cap. 13, clike no seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/11/dissertacao-exegetica-de-i-corintios.html


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